A Festa da DEMOcracia na Bahia

31/10/2012

A Derrota do PT, de Jaques Wagner e a Avaliação Necessária

Por Fábio Brito

… E uma multidão gritava esfuziante, ÔÔÔ ACM voltou, ACM voltou…

Balançavam suas bandeiras, sorriam, pulavam…

A imagem descrita acima nos remete a um acontecimento impossível de se vislumbrar como algo verdadeiro. Acredito que muitas pessoas devem ter se beliscado para ter a certeza de que não estavam tendo um pesadelo e que a eleição iria começar logo mais.

Mas não era. Aquilo tudo era real. Autêntico, e, desta vez, a direita baiana, soteropolitana, uma das mais retrógradas do Brasil, não precisou pagar famélicos cidadãos e lotar ônibus para fazer número e encenar falsa alegria para poder receber alguns tostões e um lanchinho logo mais, como um dia foi costume nestas plagas.

Acreditem! Eu vi! Cidadãos baianos felizes com a vitória de ACM Neto!

Passado o estarrecimento dos primeiros momentos, fiquei a me perguntar como algo assim se tornou possível num Estado, que, após muito tempo, era governado pelo Partido dos Trabalhadores, pelo segundo mandato consecutivo.

Quando algo tão estapafúrdio, inacreditável assim, acontece diante de nossos olhos, temos a obrigação de nos deter um tempo maior para analisar a situação com a acuidade que o fato nos exige.

Propaganda Eleitoral

Na propaganda eleitoral, a meu ver equivocada, mas que não acredito ter atrapalhado, no mínimo, Pelegrino se equiparou a ACM Neto, o que, por si só, não deixa de ser um grave erro. O estilo usado que é, no fundo, o mesmo que se usa para se vender uma marca de sabão qualque,r parece ter cumprido seu objetivo.

Acontece que o PT não é marca de sabão que se escolhe numa prateleira qualquer. Este é o partido que tirou mais de 40 milhões de pessoas da miséria. Que abriu as universidades, o conhecimento de terceiro grau, a milhares de brasileiros que nem sonhavam com isso, pois não acalentavam perspectivas maiores em suas vidas, que a de ser algo a mais que um pedreiro, porteiro, cobrador de ônibus ou zelador.

Este Partido, foi responsável por trazer para o mundo oficial do trabalho, com os direitos que a Lei brasileira lhes assegura, mais de 15 milhões de cidadãos, que, a partir de então, passaram a se sentir como tal. “Um homem se humilha, Se castram seu sonho, Seu sonho é sua vida, E vida é trabalho… E sem o seu trabalho, O homem não tem honra, E sem a sua honra, Se morre, se mata…” Esta música do saudoso Gonzaguinha me fez chorar por diversas vezes quando a escutava nos anos FHC.

É o Partido do Bolsa Família, PROUNI, Reuni, Minha Casa, Minha vida, PAC, Luz Para Todos.

A propaganda equivocada do PT não conseguiu fazer frente à de ACM Neto, que capturou as bandeiras do PT e se cacifou junto ao eleitorado soteropolitano.

ACM Neto escolheu uma vice prefeita mulher e negra, como Pelegrino. E, muito embora muito mais qualificada eleitoralmente que Célia Sacramento, Olívia Santana quase não apareceu nos programas. E isto se deu mais no final.

A propaganda do DEM conseguiu colar os problemas da cidade de Salvador na conta do Governador e não na administração desastrosa de João, aí vinha Pelegrino e dizia que a cidade estava um caos… Fala sério!!! Poderia dar em que?

Desempenho do Governador

Aliás o desempenho de Jaques Wagner como Governador a quantas andava? Em sua administração como estavam os índices de aprovação? Porque ele apareceu tão pouco nos programas de Pelegrino?

Os cidadãos baianos em sua maior parte avaliavam a sua gestão como mediana, segundo as pesquisas do IBOPE de 13/09/2012, no entanto, o viés era bastante negativo, com somente 3% avaliando-a como ótima e 26% como péssima.

Como foi possível chegar a este ponto? Pessoalmente pude verificar algumas situações que podem elucidar estas dúvidas:

  1. A greve dos professores mostrou a toda a população baiana um Governador intransigente que usou os mesmos expedientes que a Direita baiana sempre usou. O Governador sacolejava diante das câmeras a condenação pela Justiça da greve que a considerou ilegal. Pergunta-se: É admissível a um Governador do PT permitir que uma greve se arraste em seu governo por quase quatro meses ininterruptos? Isto num setor chave e considerado pelo partido como de alta importância e balizador da emancipação cidadã de nosso povo? Por que o Governador não foi, a partir do 15 dia sem solução da mesma, até a assembléia dos professores, com o seu secretariado, conversar, dialogar, buscar a solução para o problema? Para o povo, ficou a impressão de uma enorme arrogância de Jaques Wagner e do PT. Devemos lembrar que quem detém o poder da televisão e da mídia, é exatamente seu principal oponente no Estado, a família Magalhães, a quem interessava superdimensionar o fato e explorá-lo para provocar o máximo de desgaste nas vésperas da eleição.
  2. A greve dos policiais e a baderna conseqüente que a cidade viveu, potencializando a sensação de insegurança que a cidade e o Estado já vivia.
  3. O helicóptero de Wagner, que, tirando a mesquinharia óbvia, de imaginar que é plausível um Governador se deslocar de carro pela cidade que todos consideram como tendo um trânsito caótico, podendo ficar horas num engarrafamento, apenas ajudou a formar o cenário que mostrava um Governador distante de seu povo e pouco se importava com sua opinião.

Apoio dos Demais Candidatos

É preciso se perguntar, como pode um candidato que passa ao segundo turno de uma eleição e que recebe o apoio de todos os demais candidatos que ficaram para trás, não ter tido este fato revertido na maioria destes apoios em votos para sua candidatura? Talvez a resposta a esta questão esteja no assunto anterior, a população votou contra Jaques Wagner e o PT, resolveu mostrar o seu protesto. E o pior que o Cacareco, o macaco Tião da vez, era nada mais, nada menos, que ACM Neto e seus votos foram computados. Desta forma ACM Neto, venceu no segundo turno, Rogério Da Luz, Mário Kertesz, Marinho, Lula, Dilma, Jaques Wagner, Aloizio Mercadante e o PT. Não meus queridos não se pode dizer que foi pouca coisa…

Desempenho do Prefeito Atual – Situação da Cidade

Como já visto acima, o marketing de ACM Neto foi competente em ligar os problemas de Salvador ao Governador e isto não trouxe desgaste de Neto que fazia parte da administração da cidade.

Desempenho do Candidato Próprio

O desempenho de Pelegrino foi mediano, mas faltou firmeza nos debates e sua dicção atrapalhou, era difícil entender o que ele dizia nos debates. No geral, olhando com os olhos do povão, que iria votar, no mínimo eles se igualaram, mas a imagem de maior confiança, firmeza, segurança ficou com ACM Neto.

Propostas Apresentadas

Durante a campanha para prefeito de São Paulo o Fernando Haddad apresentou um programa de governo para a cidade que foi discutido com amplos setores da sociedade paulistana, muitos se perguntavam como poderia o Serra não apresentar um programa de Governo para a cidade.

Pelegrino e ACM Neto também não apresentaram, contentaram-se em apresentar ações pontuais sobre segurança, trânsito, educação… Como podem candidatos se apresentarem à terceira maior cidade do país sem um projeto, um Programa de Governo consistente que abrangesse todas as nuances da administração da cidade. Esta é a forma que o PT irá continuar tratando o povo baiano? Com desrespeito e falta de diálogo?

Enfim, depois de tudo que foi dito e discutido, certamente pode-se observar que o resultado das urnas em Salvador e na Bahia foi muito negativo ao PT.

Permitir o ressurgimento do DEM na Bahia, dando-lhe uma sobrevida em nível nacional, através da vitória em Salvador.

Aumentar o número de prefeituras na Bahia através do oferecimento da legenda a quem nunca foi, nem nunca se identificou com o partido, ou, muito menos, com suas bandeiras de Justiça Social, assemelhando-se a micro legendas de aluguel, como, em particular na cidade de Potiraguá, através de Luis Soares (Quem?) que foi eleito prefeito.

Cada um enxerga o que quer…

Eu, de minha parte, penso de forma diversa. Houve uma derrota estrondosa do PT na Bahia, e faz-se necessária uma reflexão séria sobre a voz das urnas e questionar as pessoas que estiveram à frente das eleições na Bahia sobre o seu desempenho e a direção que estão dando ao futuro do partido em nível estadual.

A inexistência de novas lideranças a despontarem no Estado é outro indício sério a ser discutido. Mas, quem sabe no ano que vem possamos comemorar de vez a ressurreição do DEMO na Bahia? O Jaques Wagner poderia sair candidato ao Senado e deixar o Otto Alencar como Governador da Bahia. Com possibilidade de reeleição. Bacana, não? O que vocês acham?


Salve Salvador!

27/10/2012

Análise & Opinião| 25/10/2012

DEBATE ABERTO

www.cartamaior.com.br

Logo agora que o povo de Salvador poderia reconstruir a sua cidade e sua dignidade, agora com o apoio do governo estadual e do governo federal… logo agora, quando a sorte parecia nos sorrir finalmente, novamente  nos assombra e ameaça a sombra do retrocesso. É uma lástima. Salvem Salvador!

Lula Miranda

Esta é uma saudação desse seu filho saudoso, mas também é um pedido de salvamento, de resgate, de socorro. Uma saudação e um pedido que faço aos meus conterrâneos: salvem Salvador!
Sim, também sou apenas mais um retirante vivendo aqui em São Paulo. Não um retirante da seca ou da pobreza, certamente, mas um retirante do famigerado carlismo. Meu pai, já falecido, sofreu com as agruras e perseguições dessa gente. Meus irmãos também sofreram. Eu,  “raspa do tacho”, também  sofri. Essa gente, que tanta dor e sofrimento causou a tantos, essa gente quer voltar. Essa dor e sofrimento não podem voltar.
Apanhei por diversas vezes da truculenta polícia do velho “coroné”. Foram tantas as vezes que perdi a conta e a exata lembrança ou noção. Uma vez, lembro-me bem de escutá-los dizer, entre risos, safanões e bordoadas, que apanhava por ser um “cabeludo safado”. Outra vez  apanhei por ser “metido a poeta e jornalista”. Das outras, nem lembro ao certo o motivo. Mas se apanhei, como têm a desfaçatez de dizer esses “senhores”  até hoje, foi porque “mereci”. Simples assim.
Eram outros tempos. Tempo pretérito, preterido, mas que pretende se tornar presente, mais uma vez. Não passarão! Não voltarão! Os que não viveram esses tempos, ainda bem,  não têm a mais remota noção do que é a humilhação de ser subjugado pela força do arbítrio e pelo medo, nunca sentiram a dor da chibata estalando no lombo. Talvez por isso, por desconhecimento e inocência, pensem em  votar agora em verdadeiros verdugos. Pretendem, sem perceber, devolver a chibata e a força para aos seus próprios algozes. Abolição.
“Porrada dada ninguém tira”. Não à toa, e só quem é da Bahia, sabe aquilatar a força dessa expressão popular e o que ela representa: o estupro da dignidade do cidadão.  A violação da cidadania. Abolição.
Sim, esse tempo passou. É passado. Mas, desgraçadamente, repito, pretende voltar. O lobo agora volta na pele de cordeiro. O velho oligarca pretende, redivivo, das sombras renascer e se impor na pessoa de seu Neto, seu herdeiro.
O tempo passou. Porém nunca me esqueci das reiteradas humilhações, o mandonismo. Também nunca perdi o meu desejo de um dia retornar, com a Graça do Nosso Senhor do Bonfim, à minha Salvador, agora livre da chaga do carlismo. Não mais. Não mais!? Abolição.
“Não permita Deus que eu morra sem que um dia eu volte para lá”. Esse canto doído gritado por mim, quase todos os dias, todas as manhãs, entre o alarido ensurdecedor dos carros nas marginais da cidade de São Paulo, acalentava minha  melancolia de migrante. Agora o desalento me abate, minha Salvador parece ficar mais distante.
Visito Salvador sempre, ao menos duas vezes por ano, e sou testemunha de sua “ruína”. Encontrei uma cidade suja, fedida, com lixo por toda a parte. O mais perfeito retrato do descaso e do abandono.
Lá pude ver um verdadeiro monumento à incompetência do prefeito da minha cidade. Uma linha de metrô de pouco mais de 6 Km, creio, que nunca acaba de ser construída. Após tantos anos em construção, boa parte já está depreciada. “Aqui tudo ainda é construção e já é ruína”  – como diria o outro poeta [cito seus versos aqui de memória] que hoje, para meu ainda maior desalento,  revela-se um líder de um suposto e bastardo “TROPICARLISMO”.
Logo agora que o povo de Salvador poderia reconstruir a sua cidade e sua dignidade, agora com o apoio do governo estadual e do governo federal… logo agora, quando a sorte parecia nos sorrir finalmente, novamente  nos assombra e ameaça a sombra do retrocesso. É uma lástima.
Emocionado, dedico-lhes essa crônica em forma de súplica: “Não permita Deus que eu morra sem que um dia eu volte para lá”. Salvem Salvador!

Lula Miranda é poeta e cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980. Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de esquerda.