Poderosos e “poderosos” no mensalão

18/11/2012

Paulo Moreira Leite

Num esforço para exagerar a dimensão do julgamento do Supremo, já tem gente feliz porque agora  foram condenados “poderosos…”
Devagar. Você pode até estar feliz porque José Dirceu, José Genoíno e outros podem ir para a cadeia e cumprir longas penas.
Eu acho lamentável porque não vi provas suficientes. Você pode achar que elas existiam e que tudo foi expressão da Justiça.
“Poderosos?” Vai até o Butantã  ver a casa do Genoíno…
Poderosos sem aspas, no Brasil, não vão a julgamento, não sentam no Supremo e não explicam o que fazem. As maiores fortunas que atravessaram o mensalão ficaram de fora, né meus amigos. Até gente que estava em grandes corrupções ativas,  com nome e sobrenome, cheque assinado, dinheiro grosso, contrato (corrupção às vezes deixa recibo)  e nada.
Esses escaparam, como tinham escapado sempre, numa boa, outras vezes.
É da tradição.  Quando por azar os poderosos estão no meio de um inquérito e não dá para tirá-los de lá, as provas são anuladas e todo mundo fica feliz.
É só lembrar quantas investigações foram anuladas, na maior facilidade, quando atingiam os poderosos de verdade… Ficam até em segredo de justiça, porque poderoso de verdade se protege até da maledicência… E se os poderosos insistem e tem poder mesmo, o investigador vira investigado…
Poderoso não é preso, coisa que já aconteceu com Genoíno e Dirceu.
Já viu poderoso ser torturado? Genoíno já foi.
Já viu poderoso ficar preso um ano inteiro sem julgamento sem julgamento? Isso aconteceu com Dirceu em 1968.
Já viu poderoso viver anos na clandestinidade, sem ver pai nem mãe, perder amigos e nunca mais receber notícias deles, mortos covardemente, nem onde foram enterrados? Também aconteceu com os dois.
Já viu poderoso entregar passaporte?
Já viu foto dele  com retrato em cartaz de procurados, aqueles que a ditadura colocava nos aeroportos. Será que você lembrou disso depois que mandaram incluir o nome dos réus na lista de procurados?
Poderoso? Se Dirceu fosse sem aspas,  o Jefferson não teria dito o que disse. Teria se calado, de uma forma ou de outra. Teriam acertado a vida dele e tudo se resolveria sem escândalo.
Não vamos exagerar na sociologia embelezadora.
Kenneth Maxwell, historiador respeitado do Brasil colonial, compara o julgamento do mensalão ao Tribunal que julgou a inconfidência mineira. Não, a questão não é perguntar sobre Tiradentes. Mas sobre  Maria I, a louca e poderosa.
Tanto lá como cá, diz Maxwell, tivemos condenações sem provas objetivas. Primeiro, a Coroa mandou todo mundo a julgamento. Depois, com uma ordem secreta, determinou que todos tivessem a vida poupada – menos Tiradentes.
Poderoso é quem faz isso. Escolhe quem vai para a forca.
“Poderoso” pode ir para a forca, quando entra em conflito com sem aspas.
Genoíno, Dirceu e os outros eram pessoas importantes – e até muito importantes – num governo que foi capaz de abrir uma pequena brecha num sistema de poder estabelecido no país há séculos.
O poder que eles representam é o do voto. Tem duração limitada, quatro anos, é frágil, mas é o único poder para quem não tem poder de verdade e  depende de uma vontade, apenas uma: a decisão soberana do povo.
Por isso queriam um julgamento na véspera da eleição, empurrando tudo para a última semana, torcendo abertamente para influenciar o eleitor, fazendo piadas sobre o PT, comparando com PCC e Comando Vermelho…
Por isso fala-se  em “compra de apoio”, “compra de consciências”, “compra de eleitor…” Como se fosse assim, ir a feira e barganhar laranja por banana.
Trocando votos por sapatos, dentadura…
Tudo bem imaginar que é assim mas é bom provar.
Me diga o nome de um deputado que vendeu o voto. Um nome.
Também diga quando ele vendeu e  para que.
Diga quem “jamais” teria votado no projeto x (ou y, ou z) sem receber dinheiro e aí conte quando o parlamentar x, y ou z colocou o dinheiro no bolso.
Estamos falando, meus amigos, de direito penal, aquele que coloca a pessoa na cadeia. E aí é a acusação que tem toda obrigação de provar seu ponto.
Como explica Claudio José Pereira, professor doutor na PUC de São Paulo, em direito penal você não pode transferir a responsabilidade para o acusado e obrigá-lo a provar sua inocência. Isso porque ele é inocente até prova em contrário.
O Poder é capaz de malabarismos e disfarces,  mas cabe aos homens de boa fé não confundir rosto com máscara, nem plutocratas com deserdados…
Poder é o que dá medo, pressiona, é absoluto.
Passa por cima de suas próprias teorias, como o domínio do fato, cujo uso é questionado até por um de seus criadores, o que já está ficando chato.
Nem Dirceu nem Genoíno falam ou falaram pelo Estado brasileiro, o equivalente da Coroa portuguesa. Podem até nomear juízes, como se viu, mas não comandam as decisões da Justiça, sequer os votos daqueles que nomearam.
Imagine se, no julgamento de um poderoso, o ministério público aparecesse com uma teoria nova de direito, que ninguém conhece, pouca gente estudou de verdade – e resolvesse com ela pedir cadeia geral e irrestrita…
Imagine se depois o relator resolvesse dividir o julgamento de modo a provar cada parte e assim evitar o debate sobre o todo, que é a ideia de mensalão, a teoria do mensalão, a existência do mensalão, que desse jeito “só poderia existir”, “está na cara”, “é tão óbvio”, e assim todos são condenados, sem que o papel de muitos não seja demonstrado, nem de forma robusta nem de forma fraca…
Imagine um revisor sendo interrompido, humilhado, acusado e insinuado…
Isso não se faz com poderosos.
Também não vamos pensar que no mensalão PSDB-MG haverá uma volta do Cipó de Aroeira, como dizia aquela música de Geraldo Vandré.
Engano.
Não se trata de uma guerra de propaganda. Do Chico Anísio dizendo: “sou…mas quem não é?”
Bobagem pensar em justiça compensatória.
Não há José Dirceu, nem José Genoíno nem tantos outros que eles simbolizam no mensalão PSDB-MG. Se houvesse, não seria o caso. Porque seria torcer pela repetição do erro.
Essa dificuldade mostra como é grave o que se faz em Brasília.
Mas não custa observar, com todo respeito que todo cidadão merece: cadê os adversários da ditadura, os guerrilheiros, os corajosos, aqueles que têm história para a gente contar para filhos e netos?  Aqueles que, mesmo sem serem anjos de presépio nem freiras de convento, agora serão sacrificados, vergonhosamente porque sim, a Maria I, invisível,  onipresente, assim deseja.
Sem ilusões.
Não, meus amigos. O que está acontecendo em Brasília é um julgamento único, incomparável. Os mensalões são iguais.
Mas a política é diferente. É só perguntar o que acontecia com os brasileiros pobres nos outros governos.  O que houve com o desemprego, com a distribuição de renda.
E é por isso que um deles vai ser julgado bem longe da vista de todos…
E o outro estará para sempre em nossos olhos, mesmo quando eles se fecharem.

 
Do blog do Esquerdopata

O Golpe a Caminho

04/11/2012

O STF E O ESTADO DE DIREITA

Por Fábio Brito

 

Há um reboliço na blogosfera!!! Praticamente em todos os blogs de “esquerda” do país, é dado como certo que haverá um Golpe no país, a questão que falta dizer é “quando”???

Sabe-se que este ocorrerá através do STF, sendo que a maioria dos post´s e comentários que tenho lido se informa que haverá uma perseguição ao ex-presidente LULA e a presidenta DILMA.

Posso estar errado, mas creio que o que está sendo gestado nas entranhas da ala mais reacionária de nossa elite não vá por este caminho.

Vejamos: O Partido dos Trabalhadores foi pego com a boca na botija, no pulo do gato. Seus líderes foram condenados. Um ex-presidente do partido (José Dirceu), o outro era presidente (José Genoíno) e, junto a eles, o tesoureiro (Delúbio Soares).

Os crimes a eles imputados foram cometidos, aproximadamente, a partir do ano de 2003, logo, no início da primeira gestão de Lula. Dilma era ministra das Minas e Energia. Em seguida ela ocuparia a Casa Civil, substituindo a José Dirceu, que saiu alegadamente, para melhor se defender das denúncias que recaiam sobre si e, também, para evitar maiores desgastes ao Governo do Presidente Lula.

Dilma é eleita em 2010. 55% dos votos contra 45% do candidato da oposição e seu mais conhecido membro (José Serra). Marina Silva (candidata do PV) receberia uma quantidade expressiva de votos.

Durante as eleições para prefeito, o STF fez uma casadinha, estabelecendo para as vésperas da eleição, o julgamento da ação 470, mais conhecida como Mensalão. Fazendo os trâmites da ação correr a toque de caixa para que coincidisse exatamente antes do pleito e pudesse influenciar o voto dos brasileiros, como queria e sonhava o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel.

Após o primeiro turno, e com os resultados que colocaram o PT em primeiro lugar em número total de votos, cerca de 17 milhões, a pressa do STF sumiu, escafedeu-se. Pode-se esperar um tanto mais, afinal, os ministros precisam de descanso depois de jornada tão extenuante. Agora é preciso dar “um tempo”, uma vez que vossas magnificências já cumpriram com seu dever cívico, exigido pela grande imprensa brasileira, apelidada carinhosamente de PIG.

Talvez, se não houver fatos novos até lá, pode-se deixar a estipulação das penas para as vésperas da eleição de 2014, quem sabe?

Desta forma, quando se observa aprovação de Lula e Dilma através das pesquisas de opinião, onde esta se aproxima de 90%, pergunta-se: Teria a direita, peito suficiente para enfrentar uma aprovação destas? Seria ela capaz de enfrentar possíveis protestos por todo o país onde estaria a se denunciar a tentativa de GOLPE, através da perseguição dos dois mais populares líderes do Atual momento em nossa nação???

Por outro lado, parece que seria mais fácil cassar o registro partidário do PT. Os seus líderes já estão condenados a crimes, lembrem-se, praticados a partir de 2003.

Os ministros do STF, por tabela, poderiam cancelar a diplomação da Dilma, apenas porque a sua eleição ocorreu enquanto o partido dos “quadrilheiros”, (segundo os ministros do STF) cometia os crimes. A cúpula do partido era formada por “bandidos” (sic), agora condenados à prisão.

Nem é preciso saber se ela tinha conhecimento ou participava da divisão do butim. Sua eleição se deu de forma fraudulenta, logo, será apeada do poder pelo STF. Cassasse o registro partidário do PT e todos os eleitos pelo partido terão que entregar seus mandatos, pois, todos, de alguma forma, usufruíram dos frutos dos crimes concretizados pelos seus líderes.

Muito mais fácil convencer a população e desmobilizar qualquer tentativa de resistência é, simplesmente, “demonstrar”, através da grande mídia brasileira, que este é, apenas, conseqüência, do julgamento da ação 470, o Mensalão.

Se o PT é formado por “quadrilheiros” e a presidente atual do país é deste partido, e esteve como ministra nos dois governos de Lula, sendo que, no segundo, ocupou o principal posto de mando depois do presidente, como permitir a existência do partido?

Convencida a população que a extinção do PT é necessária ao prosseguimento da vida normal do país, pois sem ele não haverá corrupção, quem sairá às ruas para defender o PT? Lula e Dilma não foram cassados, não se precisa discutir a atuação deles. A fraude foi cometida pelo PT que já tem seus líderes condenados. Pergunta-se: Quem defende o PT? ACM Neto? Que em sua propaganda eleitoral criou o bordão “ME DEFENDA NETO”???

O Brasil estará em pleno Estado de Direito. Sua constituição estará sendo respeitada. A legislação cumprida. Quem se levantará para denunciar um GOLPE? Quem irá dizer que estamos numa ditadura? Em que canais estas pessoas irão falar isto? Na Globo? SBT? Bandeirantes?

A esta altura já estaremos roubados. Nestas “quadradezas” não haverá um heróico cidadão para defender o PT.

Quem terá coragem de enfrentar a ROTA em SP para defender a democracia? E nos outros estados em que a polícia ainda age de forma igualmente brutal, como se ainda estivéssemos na ditadura? Onde a tortura é coisa comum? Alguém aí gostaria de passar pelo que a presidente Dilma passou? Em pleno estado de “direita”? Aliás, alguém aí tem idéia do que passou esta grande mulher, para chegar onde hoje está, pela decisão da grande maioria do povo brasileiro?